Um pouco de história: Intel® Web Tablet

 Intel Web Tablet

Em 1998 a Intel® desenvolveu um produto que embarcava um processador ARM, trazia tela touchscreen, contava com um MP3 player embutido, armazenamento flash e permitia navegação na Internet através de conexão sem fio.
Batizado de Intel® Web Tablet, o produto não chegou a ser comercializado, mas marcou o início de uma onda que viria a ganhar musculatura em meados dos anos 2000.

Navegando no sofá
A ideia de um tablet surgiu de uma iniciativa dos laboratórios de projeto da Intel® no final de 1990 chamado de "qualquer lugar da casa". O Intel® Web Tablet permitia que o usuário se conectasse ao PC utilizando uma solução de rede doméstica sem-fio AnyPoint. Ainda não era um PC independente, mas um dispositivo de navegação estendida com algumas aplicações adicionais.


A origem do projeto
David Cobbley liderou a engenharia do dispositivo e foi um dos três funcionários originais que estabeleceu uma start-up dentro Intel. Os outros foram David Andersen e Ed Arrington.
"Estávamos à procura de maneiras de associar a Intel com a Internet e nós vimos isso como uma maneira ideal para que isso acontecesse", declara Cobbley.
"Lembro-me de estar sentado no Labs, olhando para uma pesquisa etnográfica, até que eu vi esse conceito de pad", disse Arrington, que liderou o esforço de marketing para o produto. "Eu lembro de ter visto o conceito de como ele poderia ser usado em casa, movê-lo, usá-lo para o consumo de conteúdo. Essa foi uma centelha para mim. Eu disse: 'Ei, isso pode ser uma oportunidade.'"
Cobbley, Andersen e Arrington desenvolveram um plano de negócios e foram financiados por um grupo nascente dentro da Intel®, criado para ajudar a financiar e desenvolver novas idéias como esta. O ano era 1998.
A equipe trabalhou em silêncio em torno de um modelo OEM, no qual a Intel® iria desenvolver um design de referência para que fabricantes de dispositivos pudessem trazê-lo para o mercado.
Mas então aconteceu algo que elevou as apostas e mudou tudo...
"Uma das estações de TV em Portland mostrou alguns vídeos de um de nossos primeiros ensaios em uma residência local", lembrou Andersen, gerente geral e diretor de tecnologia para o grupo tablet. Andy Grove, então presidente da Intel®, viu a matéria!
"Nós dissemos, Andy, nosso próximo passo será mostrá-lo no Intel® Developer Forum", disse Andersen.
"Andy disse que não! Ele disse que nós estávamos fazendo um produto com a marca Intel®, e não era isso que a empresa queria. A empresa deveria voar abaixo do radar, desenvolvendo um produto para fabricantes OEM"

Na época, a Intel® projetava e construía uma série de outros produtos, incluindo câmeras digitais, teclados e mice sem fio, e uma linha de brinquedos conectados com a Mattel®. Grove viu isso como uma extensão natural do negócio que iria ajudar a vender mais PCs.

De repente, o grupo tinha um tablet e, consideravelmente, mais financiamento. Junto com ele, uma maior visibilidade e as mais altas expectativas.

Intel Web Tablet

O modelo de Consumo de Conteúdo
O grupo sabia que, no momento, o custo das telas LCD e baterias Li-Ion tornaria o produto caro, por isso, eles desenvolveram uma abordagem de "jardim murado". Fecharam acordos com marcas como Disney e ESPN para ajudar a subsidiar o aparelho, oferecendo páginas de destino individuais. O tablet tinha um pequeno número de botões na parte superior, onde cada um dos quais levaria os usuários a uma página inicial patrocinada pelas empresas de conteúdo.
"Não tínhamos o conceito de apps, mas isso era o mais próximo que poderíamos obter. Tínhamos um navegador dedicado que, ao ligar, levava à uma home page dedicada, com uma peça de conteúdo", disse Cobbley.

As semelhanças com os tablets de hoje iam além do consumo de conteúdo. O usuário poderia usar o toque ou uma caneta para navegar e, na tela, havia um teclado translúcido patenteado pela Intel®.
O tablet de 1998 reproduzia música e vídeos, e servia como um porta-retrato digital, muito antes das molduras digitais chegarem ao mainstream."Ele estava à frente de seu tempo", disse Cobbley.

Quando chegou a hora de apresentar o dispositivo na CES de janeiro de 2001, o então CEO da Intel, Craig Barrett, tomou o centro do palco e descreveu a visão de uma "era do PC estendido", na qual dispositivos como o Intel® Web Tablet permitiriam que os consumidores tomassem sua experiência de Internet para além o PC.
"Como os dispositivos de consumo digitais evoluem, eles vão migrar em direção a mais de recursos do PC e misturar-se no ambiente de PC", disse Barrett. "Os consumidores vão estar no centro das suas próprias experiências na Internet."

Na época, a empresa de pesquisa de mercado IDC previu que tablets Web seriam responsáveis ​​por apenas cerca de 1 milhão dos 89 milhões de dispositivos de Internet que eram esperados para serem lançados em 2004.
"Nós fomos as grandes estrelas da CES em 2001", lembrou Andersen. "Estávamos vendendo com mock-ups, e a resposta foi boa. Era tudo sobre a Internet e o boom tecnológico foi uma loucura. Foi um bom momento para vender."

Sistema Operacional
O Intel® Web Tablet rodava VxWorks, um sistema operacional de tempo real similar ao Unix, desenvolvido pela Wind River Systems, empresa que viria a ser adquirida pela Intel® em junho de 2009.
VxWorks é o Sistema Operacional presente nos veículos Mars Exploration Rover (Spirit e Opportunity), na Sonda espacial Deep Impact, no Boeing 787, no sistema iDrive da BMW, no helicóptero Apache Longbow e, até, no roteador wireless Linksys WRT54G.

Intel® StrongARM 1110
O processador era derivado da família de microprocessadores ARM, originalmente desenvolvido pela DEC e adquirido pela Intel® em 1998.
A Intel® substituiu o projeto StrongARM por uma nova família de chips ARM, destinadas principalmente no mercado de celular, sob a marca XScale. Em seguida vendeu essa divisão de negócios para a Marvell, em 2006.

Armazenamento
A Intel® adotou suas memórias StrataFlash de baixo consumo para o código e armazenamento de dados, prevendo o uso de memórias Flash dos tablets atuais.

Até Setembro de 2001 tudo iria mudar, mais uma vez...
Descobriu-se que a incursão da Intel® em dispositivos com marca própria estava causando tensão entre os clientes da Intel, de acordo com Andersen.
Mas havia outras questões: o software tinha sido atrasado, o que impactou no lançamento, e o custo final, por volta de US$ 500,00, ainda seria uma barreira no mercado.
Cobbley disse ter sido decepcionante perceber que a Intel® tenha apenas começado a descobrir não só o design e o modelo de uso importavam, mas o ecossistema para um negócio totalmente novo seria imprescindível.
"Talvez tenha sido uma ideia cuja hora ainda não havia chegado. Ou talvez fosse a bem conhecida impaciência da Intel® com qualquer divisão da empresa que não consiga projetar vendas de um bilhão de dólares (ou mais) em um curto espaço de tempo." - disse Cobbley.

Fonte: The Original ‘IPAD’?
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